quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Os verdadeiros chinelões
Elegância não está atrelada ao dinheiro, mas à atitude
Aconteceu há alguns dias. Um humilde trabalhador rural do interior do Paraná, chamado Joani, tinha uma audiência marcada no fórum da cidade. Colocou sua melhor camisa, sua única calça e seu único calçado: um chinelo de dedos. Destes que são cobiçados em qualquer lugar da Europa (são vendidos a 24 euros em Paris!) e que aqui são usados por toda a população, de cima a baixo da pirâmide social. Mas Joani foi impedido de entrar no tribunal. Não tinha um sapato, assim como não tem uma gravata, um cinto, um terno e um armário - os poucos calçados da família são guardados dentro de um fogão velho. Ele não compareceu ao fórum usando chinelos para provocar, e sim porque a outra alternativa seria ir descalço. Isso faz de Joani um chinelão? Chinelão foi o juiz que o mandou de volta pra casa e remarcou a audiência para daqui a dois meses. Faltou jogo de cintura, flexibilidade e consciência do país em que vive.
Claro que há costumes apropriados e outros inapropriados, e ir de chinelo numa audiência pública, num casamento ou à ópera faz parte do segundo grupo. Não é preciso fazer curso de etiqueta pa- ra saber o que é adequado, basta um pouquinho de bom senso. Mas este mesmo bom senso que nos faz intuir o traje correto para cada ocasião também tem que ser usado para abrir algumas exceções.
Chinelagem nada tem a ver com pobreza, e sim com falta de educação. Um homem de paletó Ermenegildo Zegna que joga lixo pela janela do carro é o Mister Pé-de-Chinelo, não importa que seja um alto executivo e que ganhe uma fortuna. Homem que bate em mulher, chinelão. Mulher que faz escândalo em público, chinelona.
Outro dia acordei às 5h para pegar um vôo às 7h. Estava na fila do check-in (auge do apagão, aeroporto caótico) quando uma lindinha chegou perto de mim com seu casaquinho de pele e com cara de quem tinha acordado há minutos do seu sono de princesa e perguntou com candura: posso passar na tua frente? Nem gestante, nem idosa, nem com dificuldade de locomoção. Não, não pode, respondi com o meu sorriso mais cordial.
Anotem, crianças, um exemplo de chinelagem explícita: furar fila.
Há outros: falta de pontualidade (tolerância de 10 minutos para encontros informais), palavrão em momento impróprio (use seu feeling), abrir o porta-malas do carro para ouvir som alto na rua (jamais! Deveria ser passível de prisão perpétua), depredar patrimônio público, enganar no troco, fiscalizar o celular do namorado, abrir correspondência alheia, perguntar o salário dos outros, agredir desconhecidos por pura diversão e a chinelagem suprema: soltar foguetes em torno do hotel onde está hospedado o time adversário. Como se viu recentemente, isso, além de chinfrim, é ineficaz.
A elegância não está atrelada ao dinheiro, e sim à atitude. Não duvido nada que o Jaoni, aquele que tomou banho, se barbeou, se penteou, botou camisa limpa e foi ao fórum com o único calçado que tinha, tenha educação para colocar muito marmanjo no chinelo.
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Vou viajar amanhã e só retorno no domingo... por isso nova postagem apenas na segunda!
Fiquem com Deus!
Beijos no coração!
Namastê!!!!
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